(Este videoclipe tem como fundo a música É a seca de março torrando o sertão de Jessier Quirino e o texto baseia-se no artigo Uma Visão da Seca a Luz da Psicanálise (LEITE, SEVERIANO, COSTA, 2009) que apresenta a visão do Nordeste como uma Região árida e carente, um dos possíveis olhares que nós como nordestinos não podemos e não devemos negar, já que faz parte da nossa realidade, da nossa identidade).
Artigo
Artigo
Clovis Guimarães Filho (*)
A caatinga já perdeu mais de 45% dos seus 82 milhões de hectares originais e a festa continua, ao ritmo estimado de 267 mil hectares desmatados/ano. Não foi considerada nesse cálculo a degradação oriunda do superpastejo e de outras atividades extrativistas conduzidas de forma espoliativa.
Para o MMA o problema do desmatamento deve-se a falta de alternativas energéticas para a região, o que dificulta e torna quase impossível a solução do problema. Um exemplo disso é a destruição criminosa que ocorre no polo gesseiro do Araripe, agravada por uma negligencia das autoridades que beira a cumplicidade.
A julgar pelos planos anunciados para reverter o processo de degradação da caatinga, as perspectivas não parecem animadoras. Veja-se, por exemplo, a fiscalização, anunciada sob a égide de uma Comissão Nacional de Combate à Desertificação, com representantes de 12 ministérios, 07 orgãos federais, 11 governos estaduais, 11 representantes da sociedade civil, 01 da Associação Nacional de órgão municipais do meio ambiente e mais 02 de entidades empresariais.
É realmente desestimulante para as nossas expectativas. Parece mais um genérico da ONU. Melhores resultados, certamente, seriam atingidos com o simples fortalecimento de um único órgão fiscalizador nas áreas mais afetadas, com mais agentes ambientais realmente na caatinga e menos funcionários na beira-mar e em Brasília.
Nesta última a desertificação se dá apenas nos finais de semana (volta dos políticos aos seus estados e origem), sendo, por muitos, até considerada benfazeja para os ares da nossa capital federal. Reservas ou quaisquer outras formas de áreas protegidas são simples complementos do processo e não funcionam, mormente as reservas brasileiras, a maioria de existência só no papel, o que nos induz a pensar que foram criadas apenas para dizer que as temos.
A busca de um novo padrão energético para o segmento industrial na região semiárida deve ser acompanhada de esforço similar na busca da valorização dos produtos naturais ou naturalizados da caatinga. Somente quando esses produtos tiverem um padrão de qualidade e um valor comercial efetivamente superior ao da lenha ou do carvão, a preservação do bioma poderá ser assegurada.
O repasse dos recursos do projetado Fundo Caatinga para as comunidades e produtores rurais de sequeiro, como planejado pelo MMA, deve ser feito com foco prioritário na fixação de um padrão diferenciado de qualidade nos produtos e serviços direta ou indiretamente associados à caatinga (frutas, madeira, carnes e queijos, peles e esterco, mel e outros produtos de abelhas sem ferrão, plantas ornamentais, artesanato, agro e ecoturismo) e na implementação de programas voltados para o seu reconhecimento regional e nacional, visando sua plena inserção no mercado.
Esta, sem dúvidas, constitui a grande, senão única, alternativa estratégica capaz de contribuir efetivamente e a curto prazo no esforço de preservação dos recursos da caatinga e de promoção do bem estar das populações que nela vivem e dela dependem. Isso, enquanto se espera a exploração do maior filão do bioma caatinga, ainda por ser melhor conhecido e explorado.
Ele é representado pela sua extraordinária biodiversidade, na qual se inserem espécies vegetais de uso medicinal, produtoras de óleos essenciais, agentes praguicidas e outras provedoras de matérias primas para indústria química, alimentar e farmacêutica. Espécies animais também integram o acervo, especialmente insetos, inimigos naturais de pragas, provedoras de substancias de uso medicinal (soros, enzimas, hormônios), além de bactérias, fungos e líquens com propriedades de antagonismo a agentes de pragas e doenças, bioinseticidas, biolixiviadoras, antibióticas, sem esquecer os gens indutores de tolerância a estresses hídrico, salino, a acidez do solo e a doenças. São 2.500 espécies de plantas e mais de 1.000 de animais, não incluídos nesse número os insetos que imploram para serem estudadas.
(*) Ex-pesquisador da Embrapa, consultor em agronegócio da caprino-ovinocultura.
E-mail: clovisgf@uol.com.br.
(Fonte: Blog Ciência e Meio Ambiente)