domingo, 28 de agosto de 2011

Projeto ajuda criadores e agricultores a recuperar o que já foi perdido da caatinga.


Mais de 50% da caatinga do nordeste brasileiro está destruída. O Nordeste brasileiro tem a maior parte de seu território ocupado por uma vegetação adaptada às condições de aridez (xerófila), de fisionomia variada, denominada “Caatinga”. Geograficamente, a Caatinga ocupa cerca de 11% do território nacional, abrangendo os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Minas Gerais. Na cobertura vegetal das áreas da região Nordeste, a Caatinga representa cerca de 800.000 km2, o que corresponde a 70% da região. Este ecossistema é extremamente importante do ponto de vista biológico, pois é um dos poucos que tem sua distribuição totalmente restrita ao Brasil.

De modo geral, a Caatinga tem sido descrita na literatura como pobre e de pouca importância biológica. Porém, levantamentos recentes mostram que este ecossistema possui um considerável número de espécies endêmicas, ou seja, que ocorrem somente nesta região, e que devem ser consideradas como um patrimônio biológico de valor incalculável.

Quanto à flora, foram registradas até o momento cerca de 1000 espécies, estimando-se que haja um total de 2000 a 3000 plantas. Com relação à fauna, esta é depauperada, com baixas densidades de indivíduos e poucas espécies endêmicas. Apesar da pequena densidade e do pouco endemismo, já foram identificadas 17 espécies de anfíbios, 44 de répteis, 695 de aves e 120 de mamíferos, pouco se conhecendo em relação aos invertebrados. Descrições de novas espécies vêm sendo registradas, indicando um conhecimento botânico e zoológico bastante precário deste ecossistema, que segundo os pesquisadores é considerado o menos conhecido e estudado dos ecossistemas brasileiros.

Além da importância biológica, a Caatinga apresenta um potencial econômico ainda pouco valorizado. Em termos forrageiros, apresenta espécies como o pau-ferro, a catingueira verdadeira, a catingueira rasteira, a canafistula, o mororó e o juazeiro que poderiam ser utilizadas como opção alimentar para caprinos, ovinos, bovinos e muares. Entre as de potencialidade frutífera, destaca-se o umbú, o araticum, o jatobá, o murici e o licuri e, entre as espécies medicinais, encontra-se a aroeira, a braúna, o quatro-patacas, o pinhão, o velame, o marmeleiro, o angico, o sabiá, o jericó, entre outras.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Manejo florestal ajuda a conservação da Caatinga.


O manejo florestal constitui uma das principais alternativas para ajudar a conservação da Caatinga,
bioma característico da região



Projeto deve capacitar 300 famílias de agricultores de quatro assentamentos do Piauí, incentivando a preservação da caatinga


por Globo Rural On-Line

O manejo florestal constitui uma das principais alternativas para ajudar a conservação da Caatinga, bioma característico da região
Quatro assentamentos da Instituição Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Piauí, serão beneficiados por uma ação pioneira no país: a assistência técnica diferenciada para o manejo florestal como fonte de renda e preservação da caatinga, bioma da região.
A ação é fruto de um contrato assinado nesta segunda-feira (22/8) pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), com a Fundação Apolônio Salles de Desenvolvimento Educacional (Fadurpe). A entidade venceu um processo licitatório e vai elaborar planos de manejo florestal nos assentamentos e prestar assistência técnica em atividades florestais.
Na primeira fase, a Fadurpe vai atender 70 famílias em três assentamentos no município de Lagoa do Sítio e Serra do Batista, no município de Valença. A expectativa do projeto é beneficiar 300 famílias de agricultores do Território Rural do Vale do Sambito.
"Este contrato é fruto de uma articulação feita com o SFB na perspectiva da sustentabilidade nos assentamentos. É uma ação inovadora no Piauí, e é também a primeira nesta modalidade no país", ressalta o superintendente do Incra/PI, Evandro Cardoso. "Nossa meta é expandir esta ação para outros assentamentos, tendo como fundamento a produção de maneira sustentável, de forma que a ação seja incorporada à rotina das famílias assentadas", completa.
Em 60 dias, a Fadurpe entrega a caracterização geral da situação ambiental e socioeconômica de cada assentamento selecionado. O contrato tem duração de dois anos. No primeiro ano, a Fadurpe vai elaborar o Plano de Manejo para no ano seguinte, implantá-lo por meio da assistência técnica das famílias. A ideia é capacitar as famílias para o manejo.
O engenheiro florestal do Incra/PI, Jankiel Moreira, diz que os assentamentos atendidos têm em comum o interesse em exercer a atividade florestal e o potencial para manejo. "Esperamos que as famílias possam ter uma melhora significativa na renda utilizando os recursos florestais de maneira racional", afirma.
De acordo com dados divulgados este ano pelo MMA, a Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, já perdeu cerca de 45 % de sua cobertura original. O manejo florestal constitui uma das principais alternativas para ajudar a conservação do bioma.



Produção com qualidade.


Quer seja produzindo óleo e biojóias a partir do coco-babaçu, quer seja produzindo ovos de galinhas caipiras, diversas comunidades do semiárido se organizam para produzir, de forma sustentável, afastando os fantasmas da seca e da migração e provando que é possível viver bem nessa imensa região que por anos foi vista apenas como uma terra inóspita, onde a escassez de água é a regra. Essas iniciativas têm contado principalmente com o apoio do terceiro setor e de alguns projetos de incentivo, mas ainda carecem de políticas públicas para se fortalecer e ampliar as possibilidades de um semiárido produtivo
Do babaçu, não se perde nada", diz Maria Sargilde Souza Carvalho, ou simplesmente, Dona Mocinha, presidente da Associação de Mulheres Rurais do Sítio Macaúba (AMRSM), em Barbalha, no sul do Ceará. Criada em 1991, a entidade reúne mais de cem mulheres - em sua maioria, chefes de família - que complementam a renda com a produção de óleo e fabricação de biojóias feitas com as sementes e a casca do coco babaçu, respectivamente. O apoio à comercialização veio com o projeto Bodega de Produtos Sustentáveis do Bioma Caatinga, mais conhecido como Bodega da Caatinga, iniciativa criada pela organização não-governamental (ONG) Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (Agendha).
Trabalhar com o babaçu, segundo Dona Mocinha, não é nada fácil. É que a atividade extrativista está praticamente se acabando para os lados de Barbalha. "O milheiro do babaçu custa apenas R$ 15,00. E os homens não querem mais colher no pé da serra porque rende pouco", conta ela. Além disso, o óleo - principal produto da extração - só é vendido se for bem higienizado. Para ela, é preciso ajuda governamental para manter a atividade. "O projeto São José não resolveu os nossos problemas", completa.

Bodega sustentável

Seis anos após a criação da Bodega da Caatinga, passou de oito para 40 o número de organizações ecoprodutivas que coletam e beneficiam produtos florestais não madeireiros, de maneira sustentável, para produzir alimentos, bebidas, fitocosméticos, biojóias, acessórios, tapeçarias, mobiliários, peças para sala, copa e cozinha e outros artesanatos. Ao todo, são mais de três mil famílias em atividades de capacitação para atividades produtivas sustentáveis e para o acesso a diversos mercados, com base nos princípios e bases do comércio justo, ético e solidário.
A Bodega da Caatinga tem parceria institucional do Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), no Projeto Conservação e Uso Sustentável da Caatinga (GEF- Caatinga).
Ela reúne comunidades, povos tradicionais e agricultores familiares dos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Há as que transformam umbu, maracujá-da-caatinga, caju, cajarana e outras frutas em geleias, doces e sucos. Outras trabalham com o coco do licuri e do babaçu; algumas com palha de licuri, carnaúba, babaçu e de milho ou com fibras de caroá, sisal e bananeira. Há também as que exploram castanhas-de-caju em variadas formas e misturas e mel de abelhas.
Já são mais de 700 produtos diferentes que se somam a mais de cem variedades de produtos de palhas e fibras. São criações predominantemente de mulheres bodegueiras. Em quase todos os casos, elas contam com a ajuda de homens de diversas idades, que também têm nessas atividades uma fonte de renda como estímulo a permanecer em suas terras e comunidades, sem precisar migrar para outras localidades.


Ovos caipiras

A criação de galinhas de postura, após a construção de um aviário, há cinco anos, para produção de ovos em sistema de gestão coletiva, vem mudando a realidade de 25 famílias da comunidade de Abderramant, em Caraúbas, município localizado no oeste potiguar, distante 260 km de Natal. A entidade alcançou a marca de 28 mil ovos/mês e responde pela maior parte da produção do item no Estado.
O projeto foi contemplado pela seleção pública do programa da Petrobras Fome Zero em 2005 e deu origem à Cooperativa de Avicultura de Caraúbas (Cooperav), que se tornou referência, não apenas na região do médio oeste, como também em todo o Rio Grande do Norte.
"Um dos objetivos da nossa cooperativa é vender a produção para a Conab (R$ 0,25, a unidade), que está beneficiando várias entidades públicas, associações de bairros e famílias carentes que recebem os produtos para seu consumo. Também é importante para as cooperativas se firmarem, colocarem os pés no chão para crescerem e, através desse convênio com a própria Conab, melhorarem a condição financeira das famílias participantes", aponta Alan Kardec, um dos coordenadores do projeto.
Parceria é a palavra-chave para garantir o sucesso do empreendimento. A Cooperav conta com o apoio da Conab, Ufersa, Dnocs, Sebrae e Prefeitura de Caraúbas, além da Petrobras. Para manter a qualidade do produto, muitos cuidados são obedecidos, conforme Kardec. "Os tratadores do manejo são orientados pelos técnicos, que passam todas as orientações sobre alimentação, higiene, acompanhamento de vacina e tudo o que é necessário para que as aves se desenvolvam sem problema e produzam com qualidade".
Segundo ele, "os ovos encontrados em supermercados são produzidos em granjas com animais presos em gaiola, ou seja, eles vivem só para produzir. Aqui as galinhas são criadas num sistema chamado de manejo aberto. Temos o pasteio, onde elas comem o capim, que dá uma coloração na gema: que fica um amarelado mais forte e um sabor mais aguçado, mais gostoso, ou seja, um verdadeiro ovo caipira. Em resumo, é um diferencial entre outras granjas, onde as aves são criadas no sistema intensivo. O nosso é extensivo, o que nos dá um ovo mais forte, mais gostoso". Já foram produzidos mais de 200 mil ovos. Quando se atingir o ápice da produção, serão cerca de 60 mil ovos/mês".
Irani Pereira de Brito, uma das cooperadas, diz que, "após a criação da cooperativa, a vida das famílias participantes mudou sobremaneira. A atividade nos deu cidadania e muito mais confiança".
(Fonte: Diário do Nordeste)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Arara-Azul-de-Lear em pauta


De hoje até a próxima sexta-feira, em Salvador (BA), será realizada uma reunião de monitoria e de revisão do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação da Arara-Azul-de-Lear. Trata-se da continuidade ao Plano de Ação elaborado em 2006. A intenção é avaliar se as metas estabelecidas no PAN estão sendo cumpridas.
Esse processo é feito por meio da Coordenação de Plano de Ação Nacional (COPAN) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE) do Instituto. Participam do encontro todos os atores envolvidos na conservação da Arara-Azul-de-Lear. A previsão é de que até 2014 sejam elaborados planos de ação para todas as espécies ameaçadas que ocorrem no Brasil.
A Arara-Azul-de-Lear (Anodorhynchus leari) é uma espécie criticamente ameaçada de extinção e endêmica do bioma Caatinga. A estimativa populacional atual é de apenas 600 aves na natureza e 40 conhecidas em cativeiro. Entre as principais ameaças à espécie estão a perda de habitat e a captura para o comércio ilegal. A área inicial de distribuição foi delimitada como tendo um raio de 8000 km2, sendo o Rio Vaza-Barris o principal marco referencial. A maior parte da população é encontrada nos municípios baianos de Canudos e Jeremoabo.
O principal item de alimentação é o coco da palmeira licuri (Syagrus coronata). Essa arara alimenta-se na própria palmeira, cortando parte do cacho (e voando com ele no bico) ou se alimentando no chão.
(Fonte: EPTV.com)







Pesquisa para a adaptação.



Os estudos para o melhoramento das condições dos criadores no semiárido
incluem uma revisão das formas tradicionais, que sobrecarregam o ambiente.

FOTO: EDUARDO QUEIROZ

O desenvolvimento tecnológico no semiárido caminha na direção do enfrentamento das condições adversas por meio de uma harmonização das atividades produtivas com o ambiente onde são desenvolvidas, de forma a garantir uma produção sustentável do ponto de vista ambiental, social e econômico. Para isso, no entanto, é necessário um esforço na integração de pesquisas e políticas públicas para a propagação de atitudes que promovam o uso sustentável dos recursos do bioma Caatinga
A herança colonial brasileira do desperdício e da devastação dos recursos naturais entra em choque com uma nova mentalidade que começa a ser esboçada a partir dos anos 1990. Eis que o semiárido também sofre respingos desse novo pensar sobre o meio ambiente. Sai da condição de um lugar do sem jeito para se tornar um espaço de possibilidades. O desafio, agora, é como melhorar ou adaptar a biodiversidade da região, sobretudo ao contexto das mudanças climáticas, que prevê aumento de temperatura e escassez de água.
Ana Clara Rodrigues Cavalcante, zootecnista da área de forragicultura e pastagens da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Caprinos e Ovinos afirma que, há alguns anos, o assunto recebe atenção especial por parte das instituições: "Temos trabalhado com projetos de longa duração que podem fornecer subsídios para identificar quais aspectos climáticos afetam mais as plantas e os animais e de que maneira esses componentes reagem a essas mudanças".
A instituição está de olho no desenvolvimento de que permitam a criação de um ambiente mais favorável à produção agropecuária minimizando os impactos negativos das mudanças climáticas. Nesse sentido, são desenvolvidos modelos integrados, como do tipo Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), no qual está inserido o Sistema Agrossilvipastoril para a Caatinga, baseado em princípios da agroecologia.

Vegetação nativa

Outra área de atenção é voltada para a vegetação nativa, sendo criadas técnicas de manipulação da vegetação de modo a garantir que as plantas possam fornecer serviços ambientais que justifiquem a manutenção delas nos sistemas de produção praticados no semiárido, evitando o desmatamento. No que diz respeito às empresas de fomento, são gerados índices técnicos e sugestões sobre políticas de crédito para financiamento de projetos com uso de tecnologias sustentáveis.
As pesquisas são de longa duração, por isso, muitas continuam em execução. "Não apenas medindo os indicadores de sustentabilidade, mas também buscando a solução de novos problemas que vão surgindo dentro do sistema de produção, identificados tanto pela pesquisa convencional quanto pela experiência com os agricultores.
A nova realidade que está sendo desenhada por pesquisadores requer uma melhor atenção à região. Entretanto, mesmo reconhecendo o apoio que o órgão vem recebendo, devido aos novos desafios de pesquisa, reconhece que ainda faltam equipamentos, principalmente para o monitoramento das variáveis ambientais e climáticas. "Temos muita dificuldade em encontrar pessoas treinadas para trabalhar pesquisas em ambiente semiárido", revela. A saída é interagir com os programas de pós-graduação para promover a integração de estudantes aos projetos desenvolvidos pela Embrapa com foco no semiárido, formando assim novos pesquisadores.

Melhoramento

A integração do ecossistema semiárido inclui espécies animais. "Atualmente, existem diversas ações voltadas ao melhoramento genético de caprinos e ovinos no Brasil, principalmente na região semiárida", destaca Raimundo Nonato Braga, médico veterinário que trabalha no melhoramento genético da Embrapa Caprinos e Ovinos.
Entre as experiências, cita o Programa de Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos de Corte (Genecoc), o de Caprinos e Ovinos Leiteiros, além do trabalho com a raça Santa Inês, uma parceria da Associação Sergipana de Criadores de Caprinos e Ovinos (Ascco) e a Universidade de São Paulo (USP).
O objetivo dos programas é promover o melhoramento genético para aumentar a produção sem perder de vista a sustentabilidade ambiental. "Esses programas buscam selecionar animais adaptados ao ambiente, em vez de modificar o lugar para permitir a sua criação", esclarece o veterinário.
Além de enfocar os aspectos de produção, as ações visam também "estudos moleculares para a identificação de genes que possam ser usados como marcadores de seleção". O pesquisador destaca os trabalhos relacionados aos núcleos de conservação das raças Santa Inês, Morada Nova, Somalis Brasileira e dos caprinos Canindé e Moxotó. Os estudos incluem desde a conservação dessas raças até a manutenção de sua viabilidade genética, protegendo da extinção. Morada Nova é um dos grupos genéticos mais adaptados ao semiárido. Por isso, foi criada uma rede pesquisa para esta raça, formada por diversas instituições de ensino, pesquisa e administração pública para estudar suas características, promover conservação e melhoramento.
Os pesquisadores destacam ser uma realidade mundial a presença significativa do rebanho dessas duas espécies em regiões de climas árido e semiárido, sendo considerada fonte geradora de alimento e de renda para as populações.
Com relação à convivência entre as espécies vegetais e animais, levando em consideração o respeito e a conservação da biodiversidade, afirma que, em condições "selvagens esta convivência é harmônica em função de mecanismos de adaptação e seleção natural, além do tamanho extenso das áreas permitir uma distribuição uniforme dos rebanhos em torno das áreas de pastejo. Os animais, de tempos em tempos, mudam de área quando a forragem escasseia."
Em condições de fazenda, no entanto, o convívio vai depender do tipo de manejo imposto pelo criador. No Brasil, é comum a degradação do semiárido por super-pastejo. Em outras palavras: são colocados mais ovinos, caprinos e bovinos do que comporta a capacidade do pasto, podendo colocar em risco a biodiversidade.
Para evitar a situação, a Embrapa realiza mapeamento dos sítios de pastejo e o período em que apresentam maior disponibilidade de forragem. As informações são essenciais aos produtores para a prática do manejo sustentável, a fim de que coloquem número compatível de animais, em cada área, garantindo o uso sustentável da biodiversidade da vegetação nativa, explica Ana Clara Rodrigues Cavalcante.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Agroecologia traz qualidade de vida.


Agrotóxico não entra no quintal produtivo da família Sousa. Ali, dezenas de plantas são cultivadas,
garantindo alimentação saudável e renda.

FOTO: RODRIGO CARVALHO

Na comunidade de Uruá, a 12 km do município de Barreira (CE), a família de dona Océlia Sousa é exemplo de sustentabilidade. Filha de agricultores, ela e o marido passaram duas décadas para conseguir ter a própria terra. Com a ajuda da Organização Barreira Amigos Solidários (OBAS), tocam um sítio de 12 hectares de maneira agroecológica. Substituíram práticas prejudiciais pelo conhecimento adquirido pela filha mais nova, Amália Sousa, que cursa Agroecologia e Meio Ambiente
A família de Maria Océlia Santiago Lima de Sousa é exemplo de superação no sertão cearense. Filha de agricultores, ela sempre sobreviveu da terra, mas passou 21 anos para ter o seu próprio pedaço de chão. Cresceu sem estudo porque o patrão de seus pais não permitia que os empregados e dependentes frequentassem a escola. Hoje, valoriza tudo o que conquistou e, com um sorriso no rosto, diz: "meus filhos estudaram para não passar pelo que eu passei. Estão todos de barriga cheia. Agora, daqui pra frente é com eles".
Casada com o agricultor Antônio Freitas de Sousa (o seu Tanin), Océlia decide os rumos da família. A começar pelo sonho de ter o próprio roçado. "Sempre dizia: Tanin, vamos comprar um cantinho prá nós. E ele dizia: não tô avexado pra sair daqui". Como trabalhava para bons patrões, não nutria a mesma ambição da esposa.
O casal trabalhava numa fazenda - ele tratorista e ela na lida da castanha de caju. "Nunca gostei de cozinha, prefiro a roça", emenda Océlia. Depois, passaram a administrar o lugar. "Tinha noite que eu dormia no pé do forno, secando castanha", relata ela, destacando que não era exigência do patrão. Um dia, contam eles, o dono da terra chamou Tanin, mandou contar as cabeças de gado e os pés de caju. A aflição bateu na família. "Ele ia vender a propriedade, se mudar para Brasília, e como seria o novo patrão?", perguntaram-se.
Antes de descobrir se o proprietário seria tão generoso quanto o anterior, venderam as dez cabeças de gado que tinham juntado com muito trabalho e, com a ajuda do patrão antigo, investiram na compra do sítio de 12 hectares onde a família vive. Passaram quatro anos para construir a casa.

Água pouca

A dificuldade de água era grande na comunidade de Uruá, quando a família começou a própria roça. Cada grupo tinha direito a um tambor (equivalente a 200 litros) de água salgada por dia. "Nunca desperdicei nem água de lavar a roupa ou da pia. E continuo juntando para molhar as plantas no quintal", conta Océlia. Com o apoio da Ematerce, veio o poço, um investimento de R$ 16 mil - que deu início à plantação de milho, feijão e mandioca.
Anos depois, com o apoio da paróquia, começou a construção de cisternas de placas. Cético, seu Tanin não acreditou na história de juntar água da chuva. "A gente só tinha dinheiro para comprar três anéis. Juntamos dinheiro e conseguimos fazer a cisterna de 16 mil litros, que serve para o nosso consumo", conta Océlia.
A segunda cisterna, de 52 mil litros, veio para garantir o crescimento do roçado, que hoje conta também com mamão, goiaba, jerimum, girassol e plantas medicinais.
Ao contrário do irmão mais velho, Amália Santiago de Sousa, 19 anos, não pensa em sair do sítio da família para tentar a vida numa cidade de maior porte. Contrariando a mãe, que queria que ela cursasse Agronomia, ela preferiu seguir o que chama de nova tendência no campo: a agroecologia. Quer aplicar na propriedade da família os conhecimentos que está adquirindo no curso técnico. "A gente sempre foi agro-sustentável e não sabia", fala.
Quando compraram o local, a terra era degradada (compactada). O pai tinha hábito de fazer queimada. "Meus pais sempre ensinaram os filhos a trabalhar na terra. Hoje, com o meu curso de Agroecologia e Meio Ambiente, implanto aqui práticas mais sustentáveis". Por meio do curso, já fez intercâmbio em agrofloresta. Desta experiência, voltou com ideia fixa de introduzir o plantio de espécies nativas da Caatinga. "Eu trago várias sementes. Quando o pai vê, elas já vingaram e tem pena de cortar", entrega. Também aprendeu a fazer compostagem, livrando o plantio de adubo químico. Agrotóxico ali, nem pensar!
(Fonte: Diário do Nordeste)

domingo, 14 de agosto de 2011

Para além das terras do litoral.


O sertão surge como um contraste em relação às terras "apartadas do litoral", para depois ganhar forma tanto física quanto no imaginário das pessoas, por suas histórias e personagens. Construído entre veredas de mandacarus e juazeiros, o sertão consegue se firmar como a terra que serviu de cenário para a "civilização do couro", como chamou o historiador Djacir Menezes. A expansão da pecuária e a fazenda de gado com os vaqueiros foram os principais elementos do século sertanejo
Um dos símbolos do Nordeste rural, o vaqueiro continua fazendo parte da paisagem do sertão por onde se embrenharam os criadores de gado da região. Eles não entraram pelas matas e alagados, preferindo desbravar as vastas extensões de terras distantes do fértil litoral, como revela a historiadora Mary Del Priore. Das veredas criadas às custas de ferimentos no próprio corpo desses homens, o sertão foi sendo desenhado. Hoje, não desbravam mais cada palmo de terra, nem tampouco arriscam a vida para pegar uma rês desgarrada, mas povoam o imaginário de um lugar que ficou conhecido por abrigar homens considerados, antes de tudo, "fortes".
Os criadores de gado, a partir da instalação do governo-geral, em 1549, iniciaram a "lenta expansão da pecuária no Nordeste". Naquela época, o sertão significava "as terras apartadas do litoral". A mata nativa do litoral fora substituída pela cana-de-açúcar, dando origem à aristocracia em torno de um dos mais prósperos ciclos econômicos do País, o da cana-de-açúcar. Mas, aos poucos, a peleja entre as terras férteis do litoral e as veredas inóspitas dos juazeiros e mandacarus - aos quais apenas o couro dos gibões dos vaqueiros resistia - iam dando forma ao sertão e aos seus personagens.

Começou com a cana

A devastação da paisagem do Nordeste, marcada pelo caráter exploratório do português, não é de hoje. Começa ainda no período colonial quando a mata nativa é substituída pela cana-de-açúcar, consolidando a prática agrícola da monocultura, cujos efeitos são sentidos até hoje. "Sabe-se o que era a mata do Nordeste, antes da monocultura da cana: um arvoredo tanto e tamanho e tão basto e de tantas prumagens que não podia o homem dar conta", relata o sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, no ensaio "Nordeste: aspecto da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil".
Destaca que o canavial destruiu as matas "pelo modo mais cru: a queimada", denunciando o seu caráter "civilizador" e ao mesmo tempo devastador. E denuncia uma das faces mais cruéis da devastação das matas nordestinas: "às vezes, esbanja-se madeira de lei fazendo-se e cercas enormes dividindo um engenho de outro. Vaidade de senhor de engenho patriarcal".
O sociólogo considera como um dos mais violentos o início do que ele chama "o drama da monocultura no Nordeste do País". O impacto dessa destruição foi sentido também em alterações do clima, da temperatura e no regime de águas. Cerca de quatro ou cinco séculos depois, a situação agrava-se com as mudanças climáticas, cujas projeções são implacáveis com o semiárido brasileiro.

"Como se faz um deserto"

O engenheiro Euclides da Cunha, em "Os Sertões", publicado em 1902 sobre a Campanha de Canudos, ocorrida cinco anos antes, dá a receita de "como se faz um deserto", enfatizando que "esquecemo-nos, todavia, de um agente geológico notável - o homem" e continua: "este, de fato, não raro reage brutalmente sobre a terra e entre nós, nomeadamente, assumiu, em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de desertos".
Informa que "começou isto por um desastroso legado indígena" e descreve como, após cortar as árvores, se ateava fogo às coivaras, até transformar em cinzas a mata exuberante. Segue detalhando que a terra era cultivada, processo repetido na estação seguinte, "até que, de todo exaurida aquela mancha de terra fosse, imprestável, abandonada e caapueira - mato extinto" e "o aborígene prosseguia abrindo novas roças, novas derrubadas, novas queimas, alargando o círculo de estragos em novas caapueiras, agravando, à medida que se ampliavam, os rigores do próprio clima que as flagelava".
"Veio depois o colonizador e copiou o mesmo proceder": "abria-os de idêntico modo, o fogo livremente aceso, sem aceiros, avassalando largos espaços, soltos nas lufadas violentas do nordeste. Aliou-se ao mesmo tempo o sertanista ganancioso e bravo, em busca do silvícola e do ouro."
Conta que, em meados do século XIX, conforme velhos habitantes das povoações ribeirinhas do São Francisco, "os exploradores, que em 1830 avançavam, a partir da margem esquerda daquele rio, carregando em vasilhas de couro indispensáveis provisões de água, tinham na frente, alumiando-lhes a rota, abrindo-lhes a estrada e devastando a terra, o mesmo batedor sinistro, o incêndio. Durante meses seguidos viu-se no poente, entrando pelas noites dentro, o reflexo rubro das queimadas."
Conclui dizendo que, ao fim da seca lendária de 1791-1792, "que sacrificou todo o norte, da Bahia ao Ceará", o governo da metrópole estabeleceu, como corretivo único, severa proibição ao corte de florestas".


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Caatinga Baiana: O Paraguaçu agoniza.

             















Paraguaçu, em tupi guarani, quer dizer “água grande”. Só que sem a mata ciliar e com poluição em excesso, de nada adianta as dimensões. E a razão é simples: a região que mais depende da água é também a mesma que agride o rio, apesar de ele ser um dos mais importantes do Nordeste.
Com 614 quilômetros de extensão, o Rio Paraguaçu atravessa três regiões da Bahia, até desaguar no mar. Nasce no município de Barra da Estiva. Na Chapada Diamantina ele distribui suas águas para irrigar um dos pólos agrícolas da Bahia, onde se produz café, batata e até maçã e ameixa.
Da Chapada Diamantina, entra no semi-árido. O roteiro inclui os municípios de Itaetê, Marcionílio Souza, Iaçu e Boa Vista do Tupim. E essa foi justamente a viagem feita pelo Globo Rural.
A partir de Itaetê, as águas do Paraguaçu aparecem represadas pela barragem Bandeira de Melo, que tem a missão de evitar que o leito do rio seque quando a chuva falta. Uma represa de 24 quilômetros de comprimento.
A seguir, por uma triste ironia, vem a região que mais agride o rio. Em Marcionílio Souza, o Paraguaçu serve até para limpar vísceras de boi. O gado é abatido nas fazendas e as tripas são tratadas no rio. Mas as tripas não são a única sujeira que o rio recebe. A mesma água que limpa as vísceras, e que depois se transformam em pratos de buchada, corre de onde mulheres lavam roupas. É com esse trabalho que elas sustentam as famílias.
O rio sofre também adiante. Nas cidades ribeirinhas a mesma água que mata a sede e a fome, recebe poluição de todo canto. Do jeito que sai das casas e das ruas, a sujeira cai na água. O caramujo, transmissor da esquistossomose, está presente. Em meio ao perigo de contaminação, os pescadores procuram peixes.
Na região da Caatinga, o pasto só não invadiu o curso das águas, como a mata ciliar desapareceu. Resultado: a erosão tomou conta do leito e a margem do rio começou a desbarrancar. Por causa da falta de proteção das matas ciliares, vários afluentes já morreram nesta região. Um riacho, de tão assoreado, não vê água nem em época de chuva. O Paraguaçu, logo adiante, não recebe nenhuma contribuição do parceiro há mais de 10 anos.
Carlos Romero dirige uma organização não-governamental, a SOS Paraguaçu, que há mais de uma década vem denunciando essas agressões. De acordo com estudos recentes, a devastação da mata ciliar chega a 70% da extensão do rio. Isso significa cerca de 400 dos 614 quilômetros do Paraguaçu.
Dois deles passam pela fazenda da família do pecuarista Dilson Oliveira. São dois quilômetros de pasto no lugar da área que deveria ser preservada. O rebanho de 80 cabeças de gado costuma passar fome quando a chuva demora. O capim não cresce. O medo de Dilson é que um dia a água do Paraguaçu também falte. E ele conta que ela já está diminuindo.
Os ambientalistas já fizeram os cálculos de quanto precisam reflorestar. De acordo com Carlos Romero, seria preciso replantar 1700 quilômetros de mata ciliar. Na prática é difícil, mas se envolver as comunidades que destruíram as matas, um dia será possível novamente ver o rio respirar.
(Fonte: EPTV.com)

        Poluição e falta de mata ciliar prejudicam o Paraguaçu








sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Um canal de irrigação na caatinga de Pernambuco .





Projeto de Irrigação Pontal - Codevasf/Petrolina


A foto
Nesta fotografia podemos observar parte do canal de irrigação do Projeto Pontal na caatinga do município de Petrolina, PE. A fotografia foi obtida no dia 22 de março de 2011.

O fato

A riqueza proporcionada pela irrigação na região semiárida do Nordeste é inquestionável. As margens do Rio São Francisco, são inúmeros projetos de irrigação que transformaram as terras secas em verdadeiros oásis. A produção desses projetos caracteriza-se, principalmente pela diversidade de hortaliças e frutas, principalmente as uvas sem sementes que são exportadas para muitos países. Embora a irrigação tenha sido um marco no desenvolvimento do Nordeste semiárido, as grandes estruturas dos canais de irrigação têm causado transformação na paisagem da caatinga por onde passam. Essas transformações, embora muitas vezes positivas como a perenização de pequenos rios e riachos com a água dos canais, em termos de bioma, podem trazer conseqüências negativas, visto que, a presença constante de água em determinadas áreas da caatinga, com certeza irá alterar o equilíbrio da fauna e flora da região atingida pelas águas que sobram nos canais, principalmente pela quebra da sazonalidade das águas nos pequenos rios e riachos da caatinga, visto que, o período de chuvas e secas é um marco regulador de muitas espécies de plantas e animais da caatinga.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Produção de carvão no Nordeste afeta áreas de caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro.


Uma operação conjunta entre órgãos policiais e ambientais deflagrada na Bahia e em São Paulo visa prender 29 suspeitos de irregularidades no comércio de carvão e na emissão de documentos públicos.
Os suspeitos são funcionários e ex-funcionários da Sema (Secretaria do Meio Ambiente) da Bahia, produtores, comerciantes e consultores. As fraudes em questão envolvem irregularidades na emissão de crédito de reposição florestal.
A reposição florestal é uma forma de compensação pela retirada ou consumo de produtos ou subprodutos de florestas, como lenha e carvão, oriundos do corte de mata nativa. O crédito de reposição é adquirido por quem precisa praticar a reposição, como vendedores de carvão, produtores de ferro-gusa e empresas que usam lenha, como pizzarias. Esses empresários podem comprar os créditos de pessoas que têm projetos de plantações de florestas aprovados pelo órgão ambiental.
Até o final da manhã desta sexta-feira, 18 de 29 mandados de prisão haviam sido cumpridos. A ação ocorre em 11 cidades baianas e na capital paulista. A operação cumpriria ainda 34 mandados de busca e apreensão, e é executada por cerca de 150 policiais civis, 25 promotores públicos, seis fiscais do Inema (Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia), além de servidores da Polícia Rodoviária Federal e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
A produção de carvão no Nordeste do País afeta áreas de caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro (com 80% de sua área no Nordeste), e que já perdeu 45% de sua cobertura vegetal. Números do governo federal apontam que 0,33% da biomassa da caatinga são transformados anualmente em carvão para abastecer a demanda por energia.
(Fonte: IG)


A Universidade Federal Rural de Pernambuco e o Comitê Estadual celebram o Dia Nacional da Caatinga

Marcelo, Suassuna, Rita, Ednilza e Márcio (CERBCAA/PE) João Suassuna (Fundaj) Márcia Vanusa (UFPE) Francis Lacerda (IPA) e Jo...