Zabé da Loca é uma brasileira que marcou as inúmeras histórias da Caatinga. Durante anos, ela morou em caverna de pedra. Hoje, tocando o pífano, a flauta típica do Nordeste, é considerada a rainha do pífano.
Na aridez do cenário, surgem personagens que só o sertão parece fazer brotar. É assim na região do Cariri Paraibano, no município de Monteiro. Na zona rural, há uma moradora ilustre conhecida como Zabé da Loca.A idade não tirou seu senso de humor da dona Zabé. Ela tem 86 anos e passa boa parte dos dias na varanda de casa azul, observando o movimento, que não é muito, e lembrando a sua história, que não é pouca. “Eu já trabalhei muito. Trabalhei tanto que fiquei velha no tempo. Pai gritava. Nós éramos quatro. Era um em casa mais a mãe e os outros no roçado mais ele. Me criei trabalhando, minha filha”, contou Isabel Marques da Silva.Zabé é nascida em Buíque, Pernambuco. Ainda adolescente foi para o município de Monteiro, na Paraíba, e há sete anos vive no assentamento Santa Catarina, em uma casa que ganhou do Incra no processo de reforma agrária. “Eu gosto da minha serra. Eu não vou porque a subida pra mim é ruim demais”.Ela prefere mostrar o lugar da antiga casa sem sair da atual e aponta para um grupo de pedras. Uma delas costumava ser sua morada. É daí que vem o apelido “Zabé da Loca”. Loca quer dizer gruta, caverna. “Eu morei 25 anos debaixo dela. Era eu e os filhos. Tinha um marido, mas o marido morreu. Daí ficou eu e os dois filhos. Fui feliz, graças a Deus”.A dona Zabé tem bronquite crônica. A audição também é bem prejudicada. “Eu fumo, mas é pouquinho”, disse. Fôlego e ouvido são essenciais para o pífano, a arte que deu fama a ela. Zabé é conhecida como a rainha do pífano. Ela aprendeu a tocar o instrumento com o irmão aos 10 anos. “To com vontade de parar com isso porque isso acaba com o fôlego, acaba com os pulmões. O cigarro eu fumo só um pouquinho”, acredita. Além do pífano, a vida passada na antiga loca define a figura de Zabé.
(Fonte: Globo Rural)