A arte de preservar tesouro de 5 mil anos
Pesquisadores de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí se unem
para preservar pinturas e gravuras rupestres no Sertão do Seridó (Foto Dean Carvalho)
Por Cleide Alves
cleide@jc.com.br
CARNAÚBA DOS DANTAS – Um tesouro com cerca de cinco mil anos de existência, localizado no Sertão do Seridó, mobiliza pesquisadores dos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí. O trabalho coletivo terá como resultado a preservação dos sítios arqueológicos de Carnaúba dos Dantas (RN), onde há registros de pinturas e gravuras rupestres. Ações de educação patrimonial começam a ser desenvolvidas a partir deste mês, mas já estão em andamento a limpeza dos desenhos e a colocação de passarelas para organizar as visitas nas áreas das pinturas.
Os 71 sítios identificados em Carnaúba dos Dantas representam a tradição nordeste, caracterizada por figuras que dão ideia de movimento – cenas de caça e dança, por exemplo. As pinturas, na cor vermelha, são atribuídas a grupos étnicos que habitaram a região. Proteger os painéis de arte rupestre não é uma tarefa simples. É preciso combater inimigos naturais, como vespas, abelhas, marimbondos e infiltrações d’água, e também atos de vandalismo que põem em risco a integridade dos sítios.
A instalação de passarelas de madeira, para o visitante contemplar os grafismos sem tocar nos painéis, foi a solução encontrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para controlar o vandalismo. “Dar condições de visitação pública e ao mesmo tempo garantir a preservação faz parte da política nacional do Iphan”, explica o arqueólogo Onésimo Santos, da superintendência do Rio Grande do Norte.
Ele informa que o projeto não prevê apenas as passarelas. Escadarias para facilitar o acesso aos sítios (subidas que exigem esforço físico do visitante) estão sendo construídas com pedras encontradas na região. “Vamos sinalizar com placas indicativas e criar áreas de descanso”, diz o arqueólogo. As intervenções começaram pelos Sítios Xiquexique 1 e Xiquexique 2, que ficam próximos da área urbana. “São os mais visitados e, portanto, os mais vulneráveis”, justifica.
Outros dois sítios de Carnaúba dos Dantas, Xiquexique 4 e Pedra do Alexandre, receberão tratamento semelhante, todos com recursos do Ministério da Cultura. A inauguração está programada para novembro deste ano, no Seminário de Socialização do Patrimônio Arqueológico, que o Iphan realizará em Natal. Paralelamente à confecção das passarelas, o instituto conta com a colaboração de uma especialista do Piauí, para identificar os males que acometem os painéis e fazer a limpeza.
Arqueóloga e química, Conceição Lage trabalha desde o mês passado na remoção de sujeira natural dos Sítios Xiquexique 1 e Xiquexique 2. “Foram tiradas 26 casas de marimbondo ativas, duas colmeias de abelhas, dejetos de répteis, manchas de fuligem provocadas pela ação de retirada de insetos e depósitos salinos de Xiquexique 1, sem colocar a pintura em risco”, diz ela, em entrevista por telefone. Professora de arqueologia da Universidade Federal do Piauí, Conceição Lage acrescenta que os ninhos de vespas também deixam rastros nas pinturas.
“As vespas pegam argila da região e misturam com saliva para fazer as casas, com o tempo isso vira pedra e às vezes encobre a pintura. Tinha bastante por lá”, comenta. A pesquisadora sugere manutenção constante no local para evitar novas infestações. “Não existe um produto natural para espantar os insetos.” No Sítio Xiquexique 2, Conceição Lage se deparou com infiltração de água na rocha, provocada por raízes de plantas.
De acordo com a arqueóloga, as raízes ácidas abrem pequenos furos na pedra, por onde a água se infiltra, transportando sais, sujeira e areia até a área dos desenhos. “É complicado fazer a remoção porque há situações em que a pintura está coberta pelos sais e, em outras, elas estão sobre os sais”, declara. Nesse caso, ela indica intervenções na parte alta da rocha, para frear e inibir o aparecimento de buracos. Conceição Lage se dedica à conservação de arte rupestre desde 1991.
(Fonte JC - Ciência e Meio Ambiente)
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