Um estudo aponta que o bioma caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, está em sério risco de extinção por conta das mudanças perpetradas no Rio São Francisco nas últimas duas décadas.
A caatinga ocupa, ainda, 10% do território brasileiro e, apesar do seu aspecto agreste e seco, é um bioma muito rico em biodiversidade e importantíssimo para a manutenção do equilíbrio ecológico da região à qual pertence.
O estudo de José Alves Siqueira, professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, Pernambuco que resultou na publicação do livro “Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação”, vem acrescentar uma nota de alarme à situação de degradação acelerada que este bioma vem sofrendo desde a década de 1990. Antes eram os desmatamentos, a transformação do uso da terra para a monocultura de algodão, o uso de maquinário pesado que destrói a estrutura do solo e agora, nos dois últimos anos especialmente, a redução drástica da vazão do único rio que banha a caatinga, o Rio São Francisco.
Fonte foto
Um rio não é só um rio, um corredor de águas necessárias à expansão agrícola de um país ou região. Um rio é toda a vida que habita suas águas, suas margens e suas matas. O dano que projetos causam a um rio, mesmo que com o objetivo de melhorar a vida das populações regionais (ou fornecer água farta para os cultivos de quem possa pagar por elas) têm de ser avaliado em comparação com o dano que se causa ao bioma. Teremos um corredor de águas, que se extinguirá com o tempo, ou queremos um rio vivo que alimente a vida de animais e humanos que queiram viver às suas margens. É preciso escolher com consciência.
No resumo do estudo de Siqueira fica bem claro quais são os impactos ambientais que estão ocorrendo e porquê: “O Rio São Francisco considerado um dos maiores rios da América Latina, com sua riqueza de organismos é cenário desse estudo que reflete sobre sua história apocalíptica quanto às questões socioambientais e os impactos nos ciclos econômicos. Assim, foram analisados os problemas que acometem o São Francisco por meio de estudos do histórico desde a passagem dos naturalistas que documentaram a biodiversidade “in loco” de ontem, do hoje e de previsões do amanhã.
A premissa provém da falta de compreensão do conceito de “rio vivo”, uma vez que do ponto de vista técnico de engenharia ele é visto apenas como um canal de água que gera eletricidade e fornecimento de água para abastecimento humano com fins múltiplos. Os resultados apontam para a idiossincrasia entre o Rio São Francisco e as Caatingas, ambos se retroalimentam e tornam-se anêmicos quando a sua biodiversidade é extirpada. As recomendações apontadas aqui sugerem investimentos em educação e que setores produtivos no Brasil se debrucem para compreender o funcionamento dos ecossistemas e sua ampla rede de comunicação, caso contrário, não haverá a mínima chance de reverter esse quadro caótico sobre a biodiversidade do Rio São Francisco”. Soa como um alerta desesperado (leia a íntegra do trabalho aqui.
Entre os impactos que o pesquisador aponta estão a construção de barragens (hidrelétricas) que impedem a piracema (movimento de peixes subindo o rio para desovarem) e modificam de forma inexorável a comunidade bentônica e limnológica (peixes e pequenos animais que vivem nas águas, areias e lodos). Também é apontado como fator de degradação o desvio das águas - para abastecimento humano e animal, recreação, indústrias - e o desague de esgoto sem tratamento, situações que alteram a qualidade das águas e do ambiente. “Com o fim da piracema, uma vez que os peixes não conseguiam mais subir o rio para se reproduzir, o declínio do número de cardumes e da variedade de espécies foi intenso. Entre as mais afetadas, as chamadas espécies migradoras, entre elas curimatá-pacu, curimatá-pioa, dourado, matrinxã, piau-verdadeiro, pirá e surubim”. Leia mais aqui.
No 17 de agosto último o Ibama soltou uma nota técnica em que avalia os impactos ambientais resultantes da redução de vazão do Rio São Francisco que afetou, especificamente, os municípios de Sergipe ocasionando um aumento significativo da população de algas e cianobactérias compromentendo seriamente as qualidades das águas mesmo para abastecimento humano.
Fruto do Mandacarú fonte foto
”A caatinga é um bioma onde vivem cerca de 27 milhões de pessoas; a maioria carente e dependente dos recursos do bioma para sobreviver. Boa parte de seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em outro lugar do mundo, o que torna este bioma tão importante para o país”. Assim explica o ICMBIO porquê é imperativo tomar consciência sobre os efeitos das ações antrópicas sobre este bioma. Porque vamos alterar seu equilíbrio ecológico, prejudicar a população local e perder um patrimônio único.
Fonte: Greeme
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Alô amigos(as)caatingueiros(as). Neste espaço deixem seus comentários sobre as notícias e sobre o BLOG.