segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O gás no lugar da lenha


A caatinga é um patrimônio biológico brasileiro. Ocupando 11% do território nacional, está presente na Bahia, em Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Minas Gerais e Pernambuco, representando cerca de 800 mil quilômetros quadrados, ou 70% do Nordeste. Apesar de tamanha importância geográfica, continua sendo objeto de estudos, reconhecendo-se que o conhecimento botânico e zoológico da caatinga é, ainda, muito precário, o menos estudado dos ecossistemas brasileiros. Talvez não seja muito apropriado associar essa atenção restrita ao fato de ser a caatinga o retrato dos mais graves problemas de nossa Região, símbolo das grandes catástrofes, as secas cíclicas, responsáveis pelo êxodo de grande parte dos nordestinos desde o tempo do Brasil colônia.
Mais que símbolo das catástrofes, a caatinga também se fez por todo o século 20 um dos mais freqüentes objetos de denúncia do descaso para com o meio ambiente, responsável pelo processo de desertificação de grandes áreas do Sertão, tema recorrente aos mais importantes estudos de um Vasconcelos Sobrinho, de um Manoel Correia de Andrade e tantos outros pernambucanos que alertaram para a atividade predatória em uma área já comprometida por grandes ciclos de estiagem. Pelo menos duas dessas atividades têm a ver com a carência de subsistência de muitos sertanejos – as carvoarias – e pela necessidade de fomentar uma das suas indústrias mais promissoras no pólo gesseiro do Araripe.
Agora, além de simplesmente o debate político dos ambientalistas ou a crítica rigorosa dos acadêmicos a matéria entra em um outro campo, até pela urgência de políticas públicas ambientalistas e, simultaneamente, a descoberta e aplicação de caminhos alternativos à destruição da caatinga. É o que já vem sendo feito com uma nova tecnologia no pólo gesseiro do Sertão, com a trituração da madeira que abastece os fornos e redução de até 50% de lenha. Uma técnica trazida de uma feira tecnológica na Alemanha e posta em prática como forma de corresponder à ação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) na defesa da cobertura vegetal que vinha aceleradamente em processo de extinção em áreas de concentração das calcinadoras, como o Araripe.
De outro lado, o caminho vem sendo o uso de lenha de manejo, mas em pequeníssima escala, pelo que urgia uma resposta mais radical ao problema. E a nova resposta que começa a ganhar forma é a idéia de trocar lenha por gás. A Companhia Pernambucana de Gás (Copergas) iniciou estudo para estabelecer a viabilidade da idéia, tropeçando, inicialmente, na grande distância da área a ser beneficiada. O gasoduto que está em processo de implantação no Estado só chega até Caruaru e, mesmo assim, está demorando muito por causa das pedras no caminho. Outra possibilidade são os postos de combustíveis que podem operar o gás natural comprimido, mas, também aí, a idéia é embaraçada pelo custo que representará o transporte do gás.
Apesar das dificuldades, essa alternativa à devastação da caatinga tem que ser recebida como o caminho possível a ser percorrido a médio prazo, merecendo toda atenção o empenho do Estado em encontrar uma solução para o pólo gesseiro. Trata-se de uma solução que repercute na revitalização da caatinga e sua preservação como patrimônio biológico indispensável – desde que é intolerável a idéia de ver se expandir a desertificação sertaneja – e, também, no estímulo à base econômica de uma grande área pernambucana onde existem 152 calcinadoras, 143 fábricas de pré-moldados e 52 mineradoras. Um conjunto industrial indispensável para Pernambuco, como seria para qualquer outro Estado brasileiro.
Cabe às lideranças política, empresariais e trabalhistas buscarem sintonia em torno desse problema para o qual há de se ter soluções, seja pelo caminho procurado pelos empresários do gesso ou pelas autoridades estaduais, seja pela convocação da Agência Nacional de Petróleo e Gás para fazer parte da busca, porque o que se pretende é defender um patrimônio biológico brasileiro, e não apenas nordestino ou sertanejo.
(Fonte: JC 29.09.2008)

A Universidade Federal Rural de Pernambuco e o Comitê Estadual celebram o Dia Nacional da Caatinga

Marcelo, Suassuna, Rita, Ednilza e Márcio (CERBCAA/PE) João Suassuna (Fundaj) Márcia Vanusa (UFPE) Francis Lacerda (IPA) e Jo...