terça-feira, 22 de março de 2011

Agricultores nordestinos têm papel importante na manutenção e degradação da caatinga.


A caatinga ainda mantém 53% de cobertura vegetal, mas 80% de seus ecossistemas já sofreram algum tipo de alteração. Estes dados são reflexos do jeito de se fazer agricultura na região.
A maior parte dos pequenos produtores do sertão trabalha como seu Luiz da Silva, dono de um sítio de cinco hectares em Sobral, norte do Ceará. A cada dois anos, no período da seca, ele desmata um pedaço da propriedade, serviço chamado de brocar. Depois de aberta, a área é queimada: “Se a gente não queimar, temos muito mais trabalho para limpar”, afirma Luiz da Silva, agricultor
Quando vem a chuva seu Luiz planta a roça. Ele não usa adubo, a produção depende da fertilidade natural da terra. Por isso, depois de dois anos, ele abandona a área e abre outro pedaço da propriedade. “A gente planta e no primeiro e no segundo ano dá bem, mas a partir dos três anos a terra enfraquece e não dá mais planta que deu nos primeiros dois anos”, conta o agricultor.
Nas áreas aonde a caatinga vai rebrotando, seu Luiz mantém uma pequena criação de cabras e ovelhas. A madeira retirada do brocado é usada nas construções e pra abastecer o fogão à lenha. “O fogão a lenha é mais rápido e mais barato”, comenta Antônia da Silva, agricultora.
Esse sistema de cultivo vem degradando a caatinga ano após ano. O agrônomo João Ambrósio de Araújo Filho, pesquisador aposentado da Embrapa, trabalha com caatinga há mais de 40 anos. Para ele, o fogo é o maior vilão do processo de degradação.
“A área queimada fica totalmente desprovida de qualquer proteção e quando as chuvas se iniciam há uma aceleração da erosão. O fogo também elimina os bancos de sementes das espécies da área e os microorganismos, ou seja, o solo fica totalmente esterilizado”, explica João Ambrósio de Araújo Filho, agrônomo.
Ambrósio dedicou a vida pra encontrar uma forma de produzir no semi-árido sem agredir tanto o meio ambiente, e adaptou às condições da região um sistema chamado agrosilvopastoril, que foi implementado na fazenda da Embrapa Caprinos e Ovinos, de Sobral.
O sistema tem como base o modelo tradicional da propriedade sertaneja, que combina agricultura, pecuária e usa a madeira como energia. “Partir para o uso de tecnologias ambientalmente amigáveis, como eliminar o desmatamento, a queimada. Outro ponto fundamental foi a fixação da agricultura no terreno”, ressalta João Ambrósio de Araújo Filho, agrônomo.
O módulo experimental da Embrapa tem oito hectares e funciona da seguinte maneira: 20% da área são destinados à agricultura, 60% ficam para a pecuária e 20% são destinados à Reserva Legal. “A idéia do sistema agroflorestal é manter as árvores dentro da área, a fim de possibilitar a circulação de nutrientes no sistema, porque as árvores têm raízes profundas e as culturas têm raízes superficiais. Com as chuvas, os nutrientes se aprofundam no solo e escapam da zona de raiz destas culturas, então é necessário as árvores com raízes profundas para trazer estes nutrientes de volta para folhagem, que ao cair se degrada e libera de volta à superfície do solo”, explica o agrônomo.
O plantio das lavouras é feito em faixas intercaladas por linhas de árvores nativas e plantas leguminosas, que retiram nitrogênio do ar e transferem para o solo. Neste sistema não entra um grama de fertilizante químico industrializado. Toda a adubação vem do esterco dos animais e das plantas.
“São usados espécies como a Leucena, uma leguminosa e também a Gliricídea. Como leguminosas nativas elas também são preservadas nestas faixas e utilizadas como adubo verde. São cortadas e ficam sobre o solo pra disponibilizar nitrogênio pra cultura que será plantada. Com este sistema, nossa produtividade média é de 1.800 quilos de grão de milho por hectare, comparado com a média do estado do Ceará, que é em torno de 500, 550 quilos, nós temos um saldo de produtividade bem considerado”, avalia Francisco Éden, zootecnista – Embrapa.
A pesquisa mostrou que 200 árvores por hectare, ou 20% de sombreamento, não comprometem o desenvolvimento e a produção da lavoura. No módulo da pecuária, a idéia é melhorar a qualidade do pasto nativo, que é a caatinga. Para a criação de cabras se faz o chamado rebaixamento das árvores: uma poda drástica, a mais ou menos 30 centímetros do chão.
Quando vem a rebrota, se escolhe o broto mais vigoroso para deixá-lo crescer, os outros são retirados. Nos anos seguintes, a árvore continua rebrotando, e são esses novos ramos que vão alimentar os animais.
“O rebaixamento visa colocar ao alcance do animal as rebrotações e as folhagens. Na área de caatinga rebaixada é possível colocar duas cabras e meia por hectare e na caatinga normal são 2,5 hectares por cabeça. É o inverso”, explica Ambrósio.
Outra técnica é o raleamento da caatinga, indicada para a criação de ovelhas e vacas, que preferem o pasto rasteiro. “A idéia é retirar árvores para que a luminosidade do sol possa atingir o solo, e promover a germinação do banco de sementes das herbáceas”, diz o agrônomo.
No raleamento devem ser mantidas pelo menos 400 árvores por hectare, além de fornecer matéria orgânica para solo com a queda das folhas, elas garantem sombra para os animais. A área que foi raleada pode ser melhorada com uma técnica chamada de enriquecimento , que é o plantio de gramíneas no meio das plantas nativas. “Ao trabalhar com bovino adulto, nós podemos manter na área, três hectares pra cada vaca de 350 quilos. Se você enriquecer, pode trabalhar com um hectare pra cada vaca do mesmo peso”, afirma.
O sistema agrosilvopastoril está se espalhando pelo semi-árido. Só no estado do Ceará já são mais de quatro mil hectares conduzidos com esta técnica. Para mais informações sobre o sistema agrosilvopastoril, escreva para a Embrapa:

(Fonte: Globo Rural - 20.03.11)

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