terça-feira, 21 de julho de 2009

O raro soldadinho-do-araripe é 'adotado' por observadores

Soldadinho do Araripe

Do vale do Cariri, no Ceará, região semiárida do Nordeste brasileiro, um soldadinho muito especial foi recrutado para se juntar a um batalhão em luta pela preservação da chapada do Araripe. Desconhecido da maioria da população brasileira, ele está na lista dos mais procurados por estrangeiros observadores de aves, gente disposta a viajar do outro lado do mundo até o sertão só para apreciar, por alguns minutos, essa ave de meros 15 centímetros, com sua ‘farda’ impecável, branca e preta, e seu ‘chapéu de gala’ vermelho.
O soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) está entre as aves mais ameaçadas de extinção do Planeta, classificado na Lista Vermelha brasileira, desde 2003, na categoria ‘criticamente em perigo’. Com o mesmo status, desde 2004, a espécie figura na lista mundial elaborada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e BirdLife International. É justamente por estar em situação tão crítica – e por ser tão apreciado por observadores – que esse pequeno ‘combatente’ acaba de virar símbolo de conservação.
Em Barbalha, no último dia 2 de junho, durante um festejo religioso tradicional da cidade, o soldadinho-do-araripe foi declarado ave-símbolo por uma lei municipal. No mesmo dia ainda foram criados o Conselho Municipal do Meio Ambiente e o prêmio ambiental Soldadinho-do-Araripe, que incentiva ações voltadas à conservação da natureza.
O hábitat da ave, no extremo Sul do Estado, é a terra do padre Cícero Romão Batista, prestigiado santo milagreiro. Cravada na planície, com uma vegetação de transição entre a Caatinga e o Cerrado, a chapada do Araripe destaca-se com seus paredões de arenito. No topo, uma mata mais densa guarda o berço das águas, vital numa região onde as condições de clima e solo podem levar à desertificação.
Desembarcamos em Juazeiro do Norte para ver o pequeno ‘milagre’ de perto. Pegamos a estrada até Barbalha, cidade vizinha, e seguimos direto para o Parque Arajara, uma reserva particular na base da chapada, onde vive o morador ilustre da região. Ele ainda não arrasta multidões como o conterrâneo padre Cícero, mas já desperta o interesse de observadores de aves dentro e fora do Brasil e pode se tornar um atrativo turístico ‘redentor’ para aquela comunidade sertaneja. A região já recebe grupos de observadores de aves – especialmente ingleses, canadenses e norteamericanos – para ver o soldadinho de perto. “Esse interesse que vem de fora desperta a curiosidade dos moradores, que querem saber porque uma ave atrai gente de tão longe”, comenta o ornitólogo e fotógrafo Ciro Albano, da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), organização não-governamental responsável pelo plano de conservação da espécie.
E se você também ficou curioso, saiba que só visitando a chapada para contemplar sua exuberância, pois esse soldadinho é endêmico (ou seja, só existe ali) e tem uma área de distribuição muito restrita, de apenas 28 quilômetros quadrados, bordejando o sopé da serra.
Mas não é para todo lado que se olha que se encontra um, não! De acordo com a Aquasis, existem apenas 800 indivíduos em vida livre e nenhum em cativeiro. E tem mais! Só se conhece mais uma ave do mesmo gênero, o soldadinho-do-cerrado (Antilophia galeata). As características morfológicas – tamanho e proporções – são semelhantes, porém a cor da plumagem dos machos é diferente, sendo o soldadinho-do-cerrado negro com manto carmim, sem o branco do soldadinho-do-araripe. As fêmeas das duas espécies são bem parecidas, com a plumagem totalmente verde, embora as fêmeas do Araripe sejam mais claras.
Os dois soldadinhos pertencem à família dos tangarás e dos uirapurus dançarinos – a Pipridae – cuja característica comum é a exibição nupcial. Diversos machos exibem as penas coloridas e executam passos, saltos ou até acrobacias, procurando atrair a atenção de uma fêmea, em geral de cor esverdeada e discreta. A ela cabe a seleção do melhor dançarino, com o qual vai acasalar.
O soldadinho-do-araripe macho também fica com a incumbência de se exibir aos eventuais intrusos, tratando de defender seu território. Durante o período de incubação dos ovos e de cuidados com os filhotes pequenos – tarefa exclusiva das fêmeas – os soldadinhos montam guarda por perto, sempre prontos a avançar sobre quem se aproximar demais. Os machos mais fortes acabam por escolher as melhores áreas para a procriação onde estão os córregos e há mais alimento.

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