domingo, 23 de janeiro de 2011

Filme retrata rota do charque.


Documentário "Charqueadas: ensaio à história das rotas e
fábricas de carnes do Ceará" é filmado em Icó



O boi como colonizador do sertão. Animal criado solto na Caatinga permitiu a incursão de populações sertão adentro, que se instalariam próximas aos rios, principal referência num ambiente desconhecido e sujeito a estiagens. No século XVIII, uma técnica de salga e secagem da carne e do couro do boi permitiu que a capitania do Ceará desenvolvesse sua primeira atividade econômica de relevo: as oficinas de charque.
A trajetória econômica e social das charqueadas, que forjou no Ceará o que Capistrano de Abreu chamaria de "civilização do couro", é o tema do documentário "Charqueadas: ensaio à história das rotas e fábricas de carnes do Ceará", do jornalista Roberto Bomfim. A equipe de 22 pessoas segue para Icó, a fim de refazer uma das principais rotas do charque, seguindo a rota dos Rios Salgado e Jaguaribe.

Roteiro

Após pesquisar obras históricas que tratassem do tema, Roberto Bomfim gravou depoimentos junto a nomes como Valdelice Girão, Francisco Pinheiro (atual titular da Secretaria da Cultura), Juarez Leitão, entre outros. As filmagens foram iniciadas na última sexta e devem se estender pelos próximos 15 dias.
"Queremos sentir como era a vida daqueles vaqueiros. Por isso faremos parte do trajeto em cavalos. Vamos dormir em barracas nas fazendas e seguir caminho nas estradas abertas pelos vaqueiros do século XVIII", afirma o documentarista.
O ponto final das gravações é o encontro do Rio Jaguaribe com o mar. Era na Vila de Santa Cruz de Aracati que funcionava o principal porto, de onde o charque seguia para Bahia, Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro. O couro era exportado para a Europa.
A produção tem orçamento de R$ 160 mil, financiada pelo Edital Mecenas do Ceará, da Secult, e com patrocínio da Coelce. A ideia é fazer um vídeo-documentário de 50 minutos, a ser lançado em junho e exibido nas cidades por onde a expedição passou. O jornalista também pretende publicar, no segundo semestre, um diário de bordo.

Identidade

Pelo caminho, a equipe de filmagem também vai em busca de vaqueiros, ribeirinhos, comerciantes e memorialistas locais. Os depoimentos desses personagens servirão para compor o impacto das charqueadas no cotidiano, na economia, na relação com o ambiente e na cultura dos habitantes do interior cearense.
"Uma coisa que eu sempre busco em meus trabalhos é evidenciar um momento específico da história do Ceará. E faço isso para que os cearenses possam conhecer o Estado, porque infelizmente essa história não é contada, está se perdendo. O que eu quero é tentar mostrar esse Ceará que existiu e cresceu a partir dessa civilização do gado", ressalta Roberto Bomfim.
O charque (carne do ceará) era exportada para Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro e Bahia

HISTÓRICO


Auge e declínio das oficinas
Ela ferve nos tachos de feijão da senzala e da casa-grande. Do caldo do cozido se faz o pirão com farinha, que dá força e sustância ao tropeiro e ao vaqueiro. Num tempo de poucos gêneros de fonte proteica, a carne seca do Siará Grande tornou-se uma das bases da dieta na Colônia. Um legado de saberes e sabores que permanece até os nossos dias.
Não existe um consenso sobre quem teria trazido a técnica da charqueada ou se ela foi desenvolvida na própria capitania. O pesquisador Geraldo Nobre, no livro "As Oficinas das Carnes do Ceará" (1977), levanta a hipótese de a charqueada ter sido trazida pelos descendentes do holandês Joris Garstman, que comandava o forte dos Reis Magos (RN). Eles teriam ocupado a ribeira do Jaguaribe e de lá espalhado a técnica.
O fato é que as oficinas aqui encontraram um ambiente propício. O vento constante, a baixa umidade do ar e o acesso a fontes salinas permitiam a boa secagem do produto. Os portos eram privilegiados pela proximidade dos pontos consumidores.
Apesar de hoje ser um termo generalizado para quem trabalha com o gado, o historiador Leonardo Rolim pontua que, no século XVIII, o vaqueiro tinha uma função mais gerencial na propriedade, ainda que participasse ativamente da lida com o rebanho. A atividade, entretanto, encontraria uma série de empecilhos por conta das oscilações do clima, que tornaram inviável a produção em larga escala. Foi por conta da seca de 1777 que o charqueeiro José Pinto Martins emigrou de Aracati para o Rio Grande do Sul, onde instalou uma oficina de carnes na freguesia de São Francisco de Paula (hoje Pelotas). A concorrência com o produto do Sul contribuiu para o declínio da charqueada, dando lugar ao ciclo do algodão).
(Fonte: Diário do Nordeste)

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