sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Marcas na pedra do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI).


O Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado no Estado do Piauí, em meio à caatinga, é considerado um dos locais com maior quantidade de pinturas rupestres do mundo. Diversas civilizações, de até 12 mil anos, coloriram com óxido de ferro e outras substâncias seus gigantescos paredões de pedra. O parque recebeu pela UNESCO o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Apesar de sua importância, segue desconhecido da maior parte dos brasileiros. (Por  Nilton Fukuda e Tiago Queiroz enviado a São Raimundo Nonato).

Na próxima oportunidade, quando pensar em fazer algum roteiro pelo Nordeste, esqueça por um momento os óbvios destinos com praias e coqueiros. A região tem belas faixas de areia, inegavelmente, mas não apenas isso. Tente se lembrar de um lugar dominado pela caatinga, bioma ímpar, e coberto de pinturas deixadas por nossos ancestrais, 12 mil anos atrás. Agarre a chance de entrar em contato com um Brasil profundo, de um povo simples, de olhar sincero.
Siga para o Parque Nacional da Serra da Capivara, no sudeste do Piauí, a 517 quilômetros de Teresina e a 380 de Petrolina, já em Pernambuco. A maior reserva arqueológica a céu aberto do mundo tem 1.200 sítios catalogados, 172 abertos à visitação.
Riqueza suficiente para garantir um lugar na lista de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco.
Pela distância e pela condição das estradas, vale começar a viagem em Petrolina. Dali, são cerca de cinco horas para chegar à cidade com melhor infraestrutura no entorno da reserva, São Raimundo Nonato.
Nos 400 quilômetros de estrada, a bela paisagem do semiárido. Casas de pau a pique e cáctus de vários formatos: coroa-de-frade, rabo-de-raposa, xique-xique e palma, que serve de alimento ao gado. Além de bromélias coloridas e das copas de angico, aroeira, juazeiro e imburama-de-cheiro. A noite nessa região tem milhares de estrelas no céu e flores brancas adornando os mandacarus. Algo que você precisa ver, nem que seja uma vez na vida.
A viagem é tranquila, mas exige espírito de aventura. É essencial levar água, de preferência em isopor, pois o calor é forte e quase não há pontos de parada. Siga pela BR-407 até o Posto Fiscal, logo após a divisa dos dois Estados, depois pegue a PI-465 até a BR-20, que cruza o parque. Certifique-se das condições do veículo e evite rodar à noite.
Apesar das dificuldades, o trajeto recompensa. Você vai ver passar cidadezinhas isoladas com suas casas coloridas e nomes singulares como Campo Alegre do Fidalgo, Lagoa do Barro do Piauí, Queimada Nova, Arizona e Afrânio. Nesta, se der, faça um pit stop rápido. Corra para o posto de gasolina na beira da estrada e peça na lanchonete um copinho de doce de leite - a cidade se orgulha de ter o melhor da região. Vai custar R$ 1 e você seguirá muito mais feliz.
Com guia. Passando de São Raimundo Nonato serão mais 20 quilômetros de estrada até o parque, que tem 130 mil hectares e relevo único, formado há cerca de 240 milhões de anos. São cânions, paredões de pedra e chapadas pontilhados pela vegetação típica da caatinga, onde a quantidade e a variedade de cáctus parece triplicar. De maio a outubro, praticamente não chove, o que realça a paisagem sem igual das grandes rochas esculpidas pelo vento. E favorece a visita aos sítios arqueológicos.
As diversas civilizações de homens pré-históricos foram mesmo generosas em espalhar sua arte pelos paredões de pedra. São incontáveis desenhos, feitos em sua maioria com óxido de ferro, uma substância vermelha encontrada nas rochas e que servia de tinta para esses artistas. As cenas mostram caçadas, figuras de animais como o veado galheiro, espécie presente apenas em locais com abundância de água. Esse fato comprova a grande mudança climática da região no decorrer dos milênios.
O parque tem estrutura que contempla tanto aventureiros quanto viajantes com pouco preparo físico - vale lembrar que 30 desses sítios são acessíveis aos deficientes físicos. Em algumas regiões é possível circular com carro, descendo aqui e ali para observar os sítios que ficam mais próximos da estrada principal da reserva. Mas também há outras áreas aonde só se chega após caminhadas de até 8 quilômetros em meio à caatinga.
Não importa aonde vá, o turista precisa de um guia credenciado, normalmente gente nascida e criada nos arredores do parque. Cada guia é responsável por até dez pessoas e cobra R$ 75 por grupo, quantia que não inclui os R$ 10 para entrar na reserva.
Museu. Mas o parque não é pródigo apenas em riquezas naturais. O Museu do Homem Americano, por exemplo, conta a história das descobertas feitas na Serra da Capivara com tecnologia e instalações para lá de modernas. Há crânios e esqueletos em urnas funerárias, ferramentas líticas que mais parecem joias e uma tela de cinema que mostra desenhos rupestres - destaque para a boa trilha sonora.
Quando a fome bater, vá ao povoado vizinho de Sítio do Mocó, onde está o Camping da Pedra Furada. Você vai comer deliciosos pratos à base de carne de sol, frango ou carneiro por R$ 10. O camping também tem barracas (R$ 10) e quartos (R$ 20, com café) bem simples, mas perfeitos para os que não vão resistir à tentação de esticar a viagem. E seguir descobrindo esse Brasil.

Marcas únicas
Uma hora você vai se deparar com a representação de uma cerimônia, uma dança ou alguma cena do cotidiano pré-histórico da região.
Em outro momento, ficará sabendo que aquele animal retratado na pedra deixou de existir milênios atrás.
O resultado? É quase impossível parar de tirar fotos durante a visita ao Parque Nacional da Serra da Capivara.
Leve um cartão de memória extra na bolsa porque, com certeza, você vai precisar.
Muitas fotos - Quando anoitece, os visitantes têm uma oportunidade única na Toca do Boqueirão da Pedra Furada. As pinturas rupestres recebem iluminação especial e a sensação é a de estar em um cinema ao ar livre. Basta caminhar pelas passarelas e descobrir as cenas pintadas 12 mil anos atrás. Custa R$ 50.
Hora da caçada - É difícil ficar indiferente diante da beleza das cenas - esta fica na Toca da Entrada do Baixão da Vaca. Representações têm características do Nordeste, apesar de traços semelhantes com pinturas em cavernas da Europa e da Oceania.
Flor de mandacaru
Você vai precisar ficar acordado até um pouquinho mais tarde. Mas terá sua recompensa. Poucos espetáculos são tão singelos quanto o desabrochar das flores brancas de mandacaru, com o luar ao fundo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Alô amigos(as)caatingueiros(as). Neste espaço deixem seus comentários sobre as notícias e sobre o BLOG.

A Universidade Federal Rural de Pernambuco e o Comitê Estadual celebram o Dia Nacional da Caatinga

Marcelo, Suassuna, Rita, Ednilza e Márcio (CERBCAA/PE) João Suassuna (Fundaj) Márcia Vanusa (UFPE) Francis Lacerda (IPA) e Jo...