quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cai pela metade participação do carvão da Bacia do Rio São Francisco na matriz energética do país

Rio São Francisco

Por: Thais Leitão - Repórter da Agência Brasil


A participação do carvão vegetal produzido nos municípios que compõem a Bacia do Rio São Francisco na matriz energética brasileira caiu pela metade entre os anos de 2000 e 2007, passando de 26,17% para 13,79%. Apesar disso, em termos de volume, a redução foi pequena, tendo passado de 374 mil para 349 mil toneladas por ano no período.A atividade, realizada sem os cuidados de manejo ambiental, é um dos principais fatores de degradação do São Francisco. A avaliação é da geógrafa Adma Hamam, coordenadora do estudo Vetores Estruturantes da Dimensão Socioeconômica da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, divulgado hoje (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento traça uma radiografia da região enfocando aspectos como configuração demográfica, usos dos recursos hídricos, além da governança socioambiental. O objetivo é subsidiar políticas de revitalização da área, desenvolvidas pelo Ministério do Meio Ambiente.“Grande parte da matriz energética do São Francisco é proveniente do carvão vegetal. Isso causa danos sérios, porque, com a retirada da vegetação do Cerrado e do Semiárido, que ajuda a proteger o solo, quando ocorrem chuvas tudo é arrastado diretamente para o rio, gerando assoreamento do São Francisco, prejudicando a qualidade da água e promovendo diminuição da vazão”, destacou a pesquisadora.O levantamento indica que os seguintes municípios lideravam, em 2007, o ranking da produção de carvão vegetal na bacia: Buritizeiro, João Pinheiro, Pompeu, Felixlândia e Corinto, todos no estado de Minas Gerais.Segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Semiárido, Iedo Bezerra, essa produção é absorvida principalmente pelas indústrias siderúrgicas mineiras.Ele destacou ainda que em outra região da bacia, no chamado SubMédio São Francisco, que engloba parte dos estados de Pernambuco, do Piauí e do Ceará, o maior problema em termos ambientais é a retirada de vegetação da Caatinga para produzir lenha que abastece principalmente a indústria de gesso. Essa região concentra 95% da produção gesseira de todo o Brasil.De acordo com um levantamento realizado pela Embrapa em 15 municípios pernambucanos, que abrangem uma área de 2 milhões de hectares, quase metade já está desmatada em função dessa atividade.“Esse é um problema muito grave na nossa região. Por isso, trabalhamos para conscientizar a classe empresarial de que é possível manter a indústria a pleno vapor adotando práticas sustentáveis”, afirmou.Entre essas medidas, Bezerra destacou a divisão das propriedades rurais em zonas de produção alternada para evitar o esgotamento do solo; a recuperação de áreas degradadas; o plantio de florestas utilizando espécies de crescimento rápido com o objetivo específico de extração; e ainda a observância dos limites de preservação previstos pela reserva legal em cada região.O engenheiro florestal da Embrapa citou ainda o uso da lenha para abastecer pizzarias e restaurantes em todo o país e a utilização domiciliar para produção de energia, embora este último, segundo ele, tenha menor impacto ambiental por ser, em geral, fruto de atividade de coleta.“Essa modalidade é menos predatória porque, embora a lenha ainda seja largamente utilizada especialmente pelas populações mais pobres dos municípios da bacia, em geral elas [as famílias] retiram troncos já caídos e mortos”, enfatizou.

Um comentário:

  1. Portal Cruzeiro do Sul23 de julho de 2009 às 16:33

    O desmatamento para produção de carvão ainda afeta gravemente a região da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, aponta estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O carvão vegetal abastece principalmente a indústria siderúrgica de Belo Horizonte. Apesar da expansão de centros médios verificada de 2000 a 2007, o IBGE destaca a manutenção da carência de saneamento básico na região.


    O estudo foi encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente, que pretende concluir até 2010 o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da bacia. A região - formada por 506 municípios de Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba e Distrito Federal - representa 7,5% do território nacional e abrange 9,6% da população.


    São de Minas Gerais os cinco municípios de maior produção de carvão: Buritizeiro (34.686 toneladas em 2007), João Pinheiro (31.900 t), Pompéu (18.421 t), Felixlândia (17.826 t) e Corinto (16.201 t). Em toda a região, foram extraídas 349 mil toneladas no período, 13,8% da produção nacional. Os dados de extração vegetal são referentes a madeira nativa, portanto não incluem os de silvicultura (florestas plantadas). Neste caso, a produção na bacia atingiu 1.725.740 de toneladas em 2007 (45% do total no País). De novo, municípios mineiros aparecem como os maiores produtores: Lassance (336.868 toneladas), Buritizeiro (261.868 t), Curvelo (189.570 t), Três Marias (125.873 t) e João Pinheiro (125.441 t). O levantamento inclui apenas extrações autorizadas.


    Além de Minas, os pesquisadores destacam as regiões de Xique-Xique (BA) e da Chapada do Araripe, na divisa entre Ceará, Piauí e Pernambuco. "O problema aqui é a lenha usada na produção de gesso. Estão acabando com a caatinga", diz o engenheiro florestal Iêdo Bezerra Sá, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Semiárido, em Petrolina (PE), que colaborou com o estudo do IBGE. O responsável pelo ZEE da região, Luis Mauro Ferreira, da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério, reconhece que o uso da lenha "é amplo".


    "O problema não ocorre só no norte de Minas, para consumo em siderúrgicas e olarias. No resto da bacia, é a única fonte de energia", diz. "O problema é amplo. Temos feito um trabalho de recuperação de áreas degradadas e de mudança da matriz energética. O mais difícil é fazer chegar a informação para a população local". O estudo aponta que apenas 7 dos 506 municípios têm alguma representação do Ibama.


    Sobre a questão do saneamento, Ferreira diz que foi traçado "horizonte de 20 anos" para que toda a bacia seja alcançada no Programa de Revitalização. "A área é muito grande. Estamos caminhando para a solução a até 15 quilômetros da calha principal, e o objetivo é resolver o problema de esgotamento sanitário, principal contribuinte da poluição". A situação afeta tanto municípios mais desenvolvidos como aqueles estagnados economicamente - Brasília, Belo Horizonte, Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) são exceções.


    O IBGE destaca ainda o avanço da fruticultura (Juazeiro foi o maior produtor de manga do País, com 58% de participação) e da produção de grãos e de algodão. "O Brasil tem grande espaço para ocupar no mercado internacional e o semiárido tem muito a contribuir. É possível compatibilizar esse aproveitamento econômico para diminuir bolsões de miséria que sobrevivem", avalia a geógrafa Adma Figueiredo, que coordenou o trabalho do IBGE.


    Sobre o eventual impacto da transposição do São Francisco, ela declara: "Pode contribuir tanto para diminuir como para aumentar as desigualdades. Vai depender do rumo que se dará." Na região, 78% da água é usada para irrigação. Adma diz que a articulação da sociedade está crescendo. "Chama a atenção o fortalecimento da sociedade civil em busca de uma virada no interior do Nordeste, que era a terra do coronelismo, dos potentados rurais".(AE)

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